sábado, 3 de outubro de 2009

O Nascimento de uma Expedição

Essa talvez seja a história de como uma grande expedição nasça. Pelo menos a minha nasceu de um conjunto de coisas que permeiam as aventuras ditas loucas.

-Mais de 2500 Km de bicicleta? Do atlântico ao Pacífico? Isso é loucura!!!
"Viver as idéias loucas. Enquanto ainda me permito ter idéias loucas, bem...vou nessa."

A busca de descobrir lugares e de se colocar em novas situações é uma condição necessária,mas a condição suficiente para embarcar em uma grande expedição é a de se estar disposto a pagar o preço de ficar um longo período planejando e viajando, deixando o conforto de lado, os afaceres cotidianos e até mesmo alguma nova oportunidade.

Para começar muitas grandes aventuras começam por alguém de saco cheio com o mundo e a vida. Períodos de transição também são momentos propícios. Nas pós formaturas por exemplo nascem grandes expedições. Geralmente as menos abastardas(afinal acabou-se de sair do colégio ou da faculdade) e por isso talvez as melhores.

Exemplo radical é o de Christopher Johnson mais conhecido como Alexander SuperTramp, que além de revoltado com a sociedade era um recém formado. O meu caso é muito mais o de apenas um recém formado. Não sou tão revoltado a ponto de não querer voltar para casa e não ligar para minha família para dizer que estou bem. Se tudo der certo em dezembro serei um físico e meio que desempregado. "Vou sair para o mundo com parte das minhas economias da Iniciação Científica. E ai de quem me oferecer um bom emprego."

Christopher J. McCandless, O Alexander Supertramp, em sua viagem até o Alasca que começou após as sua graduação.(Fonte: Wikipédia)

Outro ingrediente para o nascimento de uma expedição é a inspiração e a referência de outros aventureiros, que nos mostram que é possível viver grandes momentos. Eu fiquei adimirado com o movimento de cicloturismo, achei a idéia de explorar o mundo dessa forma genial. O meu companheiro de expedição, me instigou com uma viagem pela Estrada Real em Minas Gerais. Senti um misto de admiração e inveja e resolvi me juntar a ele em uma nova expedição, ao invés de esvaziar os seus pneus . E assim emergimos nossas mentes em idéias de roteiros para fazermos de bicicleta. Alexandre, não o supertramp, mas o meu companheiro de expedição marcou no mapa onde ele tinha amigos e acabamos fazendo um traçado do Atlântico ao Pacífico, o que era espetacular e emblemático em termos de uma expedição. Pronto tínhamos a nossa grande aventura, nosso grande desafio: Atravessar o continente do Atlântico ao Pacífico de bicicleta.

Quase que palafraeando Parmênides nenhuma expedição é igual a outra. O mundo é grande e muda o tempo todo. Muitos(nem tantos) já atravessaram o continente do Atlântico ao Pacífico. Mas logo, além de nosso roteiro bem peculiar, pensamos em um sentido mais profundo, que nos propiciaria mais interação e aprendizado, além de tornar a nossa expedição mais interessante. Além de nossas histórias contaríamos histórias de aventuras de pessoas experientes e velhinhos pelo caminho descobrindo a história dos lugares e resgatando as vivências dessas pessoas. Ou seja, buscaríamos em uma "Expedição Histórias do Atlântico ao Pacífico".

Agora uma frase do já citado Alexander Supertramp retrata bem o sentimento de uma importante próxima fase da gestão de uma expedição. É o momento de se sentir capaz e forte e fechar o compromisso.Ele diz:

"(...) sei quão importante é na vida não necessariamente ser forte, mas sentir-se forte,(...)".

Fortes ou ao menos nos sentindo assim começamos o planejamento e é difícil nessa fase não se despersar do mundo e mentalmente já começar a pedalar... A empolgação nos toma e também(é inevitável) momentos de stress com os detalhes...e quantos detalhes a se resolver.

E assim dedicamos um pouco do nosso tempo ao planejamento e é inclível como esse trabalho nos envolve às vezes muito mais do que os estudos e o trabalho. (Por mais que eu goste do que eu faça e isso inclui a física.) Seguimos planejamento e nos preparando(esse é o pé das coisas enquanto escrevo) para o início de fato da expedição, na cidade de Chuí com as bicicletas montadas e prontas para atravessar várias fronteiras. O que nos resta é controlar a nossa ansiedade de montar nas bicicletas, se imaginando com um nascer do sol sobre o Atlântico. Despedindo-se dele e pela manhã tê-lo a impulsionar rumo a oeste e de tarde seguindo sua direção buscar novas terras até onde poderemos vê-lo de novo, agora se ponto sobre o desconhecido Oceano Pacífico, no ponto final da Expedição, em Valparaíso, Chile.
Pôr do Sol: El Mirador em Valparaíso